segunda-feira, 26 de outubro de 2015



生徒 

O caminho do aprendiz


Pisar num dojô novamente desta vez foi uma experiência bem diferente. Em todas as vezes em que eu voltei a treinar Judô, eu sabia o que tinha que fazer, e o único obstáculo era estar fora de forma e destreinado.
O primeiro treino de Karatê foi muito bom, eu não tive dificuldades de fazer a maior parte dos movimentos, mas ainda um tanto desajeitado e sem me localizar ao tentar fazer o kata Heian Shodan, o primeiro que é ensinado na escola Shotokan-Ryu.

Curiosamente, eu tive alguma dificuldade em levantar a perna para aprender a chutar, o que é normal pois nunca havia treinado chutes na vida. Mas na realidade o que o que mais me incomodou foi... a dor nos pés. Eu não sabia sequer pisar no chão corretamente ao fazer as bases baixas características do estilo Shotokan, pisava com força no assoalho de madeira que em nada lembrava os tatames onde eu havia aprendido a fincar os pés desde garoto, e terminei os dois primeiros treinos com a sensação de que meus pés eram tenros, como de criança. Ao final do terceiro treino isso já não incomodou tanto pois eu já estava mais habituado e já pisava de maneira mais correta ao executar os movimentos.

Numa primeira leitura, pode parecer até engraçado que um cara adulto se queixe de dor nos pés ao fazer algo tão simples como um treino de Karatê como faixa branca, mas é nessas pequenas coisas que reside a superação: iniciar numa arte marcial é como voltar a ser criança. Você terá que reaprender tudo, começando por como se equilibrar e caminhar. No processo, você cairá, se machucará, sentirá dor, como acontecia ao aprender a levantar-se e caminhar. Nem sempre conseguirá fazer de imediato o que lhe é exigido pelo Sensei, e muita coisa que aparentemente é fácil, as bases baixas, a posição do corpo e dos membros, a postura ao golpear, a posição dos pés em cada técnica, etc. não são; é necessário todo um aprendizado para que se consiga atingir a prática. Mas ao final de cada aprendizado, você estará mais forte. Isso é especialmente verdadeiro nas artes marciais.

Daí a etimologia do termo Sensei: "Sensei" a rigor significa "nascido antes", ainda que seu professor seja mais jovem do que você.

No mais, a sensação de voltar a ser um aprendiz está sendo fora de série. Inclusive, a prática diária do Karatê-Dô me trouxe de volta o estímulo para retomar os estudos de filosofia oriental e mesmo da língua japonesa, que eu havia estudado algum tempo quando adolescente.

O treino é quase uma meditação, quando a mente está imersa nos movimentos. A busca do movimento perfeito é um grande fator de relaxamento mental e de reflexão, que ressoa em toda a compreensão do mundo ao redor. Assim como no Kyudô, a arte japonesa do tiro com arco, concentrar-se completamente no tiro é um objetivo que está para além do mero acertar o alvo, no Karatê-Dô é possível observar um aperfeiçoamento da mente do aprendiz ao concentrar-se, treino após treino, na perfeição dos movimentos ao invés de simplesmente repetir mecanicamente cada técnica. Observo isso sobretudo nos treinos de Kihon e ao aprender o primeiro Kata.

Osu

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