terça-feira, 26 de abril de 2016

武士道
 Não se perca pelo caminho.

 

Um jovem certa vez atravessou o Japão até Okinawa em busca da escola de um conhecido praticante de artes marciais. Chegando ao dojô, foi recebido em audiência pelo idoso Sensei.
 
"O que deseja?" Perguntou o mestre.

"Quero estudar com o senhor e tornar-me o melhor karateka de minha época. Viajei até aqui e larguei tudo para realizar este desejo", respondeu o rapaz.

O velho então aceitou-o como pupilo e disse-lhe que retornasse ao dojô no dia seguinte ao nascer do sol para começar a treinar.

"Quanto tempo precisarei estudar?" Indagou o jovem.
 
"Dez anos, pelo menos", disse o mestre.
 
"Dez anos é muito tempo. E se eu praticasse com
o dobro de intensidade dos outros alunos?" indagou, insolente, o jovem.
 
"Vinte anos" disse o mestre.

"Vinte anos?! E se eu praticar noite e dia, dedicando todo o meu esforço?" Voltou a perguntar o rapaz, ainda mais atônito.
 
"Trinta anos, pelo menos" foi a resposta do mestre.

O rapaz não se conteve e exasperou-se: "Como é possível que, estudando com um grande professor, esforçando-me ao máximo, dedicando todo o meu tempo ao treino e à arte, eu leve mais tempo do que simplesmente treinando como todos os outros?"

O velho sensei riu suavemente e respondeu: "Meu jovem, quando se tem os olhos fixos onde se quer chegar, não se tem boa visão do caminho".


 O aprendizado das artes marciais é um processo longo e baseado no autoconhecimento, fator que só vem ao praticante através da dedicação contínua, ainda que permeada por dificuldades ou mesmo períodos de impossibilidade de treinar.

O tempo pode ser um muro intransponível como o de uma fortaleza sólida, ou pode ser um grande professor; se será um ou outro só depende da resiliência e da disposição do adepto para perceber cada curva e cada pedra que lhe são apresentadas pela jornada. 

Aquele que não desistir, será sempre recebido de volta com rigor mas com boas vindas pelo Karatê. Já aquele que não mais persiste, na realidade nunca foi um karateka. Seu lugar nunca foi ali.

E essa experiência é intrínseca: ao treinar cordialmente kumite com um companheiro de dojô, ao competir vigorosamente com um adversário em competição, ou mesmo ao defender-se de um agressor em uma situação de perigo, o praticante de arte marcial não está somente buscado vencer o oponente, mas sim a si próprio em relação ao que fora antes, até ali.

A verdadeira luta do artista marcial é consigo próprio; é uma batalha diária contra a própria inércia e contra a própria ignorância. Ao conhecer-se melhor através da insistência em aprender o caminho marcial, a consciência do próprio corpo e a superação das limitações físicas e emocionais o transforma de um mero curioso em um artista, alguém que domina aspectos da arte, em maior ou menor grau. 


Osu!

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